“Collective Genius” – Liderança Inovadora e a criação dos espaços de colaboração

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Ao tratar de liderança, fala-se muito na criação de uma visão capaz de orientar os times a partir de objetivos bastante claros e específicos. No entanto, quando estamos em um ambiente cujo foco é inovar, não necessariamente temos uma visão clara e definida; afinal, estamos criando conexões entre aspectos já conhecidos, para que novas soluções, produtos, serviços, metodologias e análises possam emergir. Assim, ter uma visão muito clara e definida em um ambiente inovador criativo pode ser muito mais um limitador que orientador, a depender da etapa do processo para uma liderança inovadora e a criação dos espaços de colaboração.

 

Então fica o questionamento: o que um líder inovador deve fazer e como ele deve orientar os esforços de inovação? 


Em nosso artigo “A cultura da inovação como catalisadora de resultados”, abordamos algumas alavancas para a promoção da cultura de inovação, que estão relacionadas diretamente com o papel da liderança:

 

  • Criar espaços para que a criatividade se faça presente 
  • Criar processos alinhados à cultura – e aqui, temos um papel essencial da liderança como grande promotora e apoiadora dos esforços de inovação, sendo o grande exemplo no qual todos devem se espelhar. 


Já que os líderes têm um papel tão importante para a liderança inovadora e a criação dos espaços de colaboração, decidimos nos aprofundar neste tema. Afinal, uma liderança inovadora teria as mesmas características de uma liderança convencional? 


Para responder a essa pergunta, vamos olhar para o estudo liderado por Linda Hill (Harvard) e sua equipe, que passaram uma década analisando o perfil comportamental de 16 líderes de empresas inovadoras em todo o mundo, e que resultou no livro “Collective Genius”. Dentre as empresas estudadas, estão Google, Pixar, Volkswagen, eBay e Pfizer.  


Um dos pontos centrais do estudo é o paradoxo da inovação e como as lideranças inovadoras devem, ao mesmo tempo, estimular que talentos e paixões sejam liberados pelos colaboradores e colocar arreios para direcionar todo esse potencial criativo em prol de resultados novos e úteis para a empresa. Esse processo exige tempo, paciência e alta tolerância ao risco, entendo todos os resultados como aprendizado. 


Na Pixar, por exemplo, cada filme leva, em média, de 4 a 5 anos para ser produzido e conta com uma equipe de cerca de 250 pessoas. Além disso, foram necessários 20 anos de desenvolvimento até que a empresa produzisse seu primeiro filme utilizando os recursos gráficos e computacionais desejados. No filme “UP – Altas Aventuras” a cena em que o personagem entrega um pedaço de chocolate para o pássaro tem aproximadamente 10 segundos de duração, mas levou 6 meses para ser desenvolvida. Em todos os processos de produção dos filmes, todas as cenas só são consideradas terminadas quando o filme em si é concluído, pois o processo de melhoria e adequação é constante e todas as cenas devem estar adequadas e congruentes. Percebemos que o processo, portanto, não é linear, e é justamente a falta de linearidade que garante a qualidade do resultado. 


Analisando esses processos de criação da Pixar, o que ficou muito claro, nas palavras de Hill, é que “inovação é uma jornada. É um tipo de resolução de problemas colaborativa, dentre pessoas com diferentes pontos de vista e experiências”. Os resultados de alta qualidade e com teor inovador elevado são possíveis pela combinação de genialidades individuais, que casadas formam a genialidade coletiva. No caso da Pixar, as lideranças têm como princípio criar espaços nos quais as pessoas estejam dispostas a realizar o trabalho árduo que a inovação exige para resolução de problemas. Além disso, essa liderança também se preocupa em fazer com que todos os disruptores e minorias sejam de fato ouvidos e tenham presença na organização: qualquer pessoa pode enviar uma nota ao diretor falando sobre como se sentiu ao ver um filme da Pixar, por exemplo. 


No entanto, como construir estes espaços?


Hill nos explica que há três capacidades essenciais que uma empresa deve desenvolver para uma liderança inovadora e a criação dos espaços de colaboração: Atrito Criativo, Agilidade Criativa e Solução Criativa. 

 

 

A capacidade de atrito criativo refere-se a um ambiente que seja capaz de amplificar as diferenças, e não as minimize. É por meio das diferenças e da colisão entre elas que é possível criar um amplo portfólio de ideias e alternativas, já que o ambiente favorece a diversidade. Para tanto, é fundamental que os colaboradores desenvolvam três capacidades: fazer boas perguntas, escutar ativamente e saber argumentar em prol de sua visão. 


A agilidade criativa tem como propósito testar e refinar todo o portfólio criado pelos atritos criativos. Aqui, o principal pilar é aprender com o processo, vendo o aprendizado como grande direcionador, retroalimentando os inputs do processo criativo. Para realizar todos esses testes, as metodologias ágeis são indispensáveis pois, segundo Hill, garantem a perfeita combinação entre o método científico e o processo artístico. É preferível agir e colher aprendizados a fazer planejamentos extensivos com poucos testes. 


Por fim, a solução criativa, que consiste em ter um olhar menos ambivalente na tomada de decisão. Geralmente, as soluções são propostas no modelo “e/ou”, ou seja, uma solução ou outra, de forma que a adoção de uma opção exclua a adoção de outra.  Contudo, aqui a intenção é entender o que cada uma das soluções propostas traz de benefício e tentar configurá-las em novas combinações, produzindo uma solução que seja de fato nova e útil. Um fator crítico de sucesso nessa etapa é que não haja um grupo ou cargos dominantes no processo de decisão, o qual deve ser feito de maneira paciente e inclusiva. 


De certo não existe um passo – a – passo único para o desenvolvimento de liderança Inovadora e a criação dos espaços de colaboração, mas citando Bill Coughran (Google), um dos líderes mais respeitados do Vale do Silício: profissionais talentosos não o seguirão para qualquer lugar; eles querem co-construir o futuro, e o papel do líder inovador é nutrir esse movimento e não deixar que essas iniciativas se degenerem. O líder criativo é um modelo, um conector, uma cola humana, agregador de pontos de vista, arquiteto social e, sobretudo, criar espaços onde a genialidade coletiva possa ser construída a partir da genialidade de cada um.

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